Hoje não trago flores.
Só a tristeza trago.
Ela me acompanhou
Mesmo sem eu querer.
Sem ao menos perguntar se podia.
E multiplicou a dor
Esqueceu do prazer e da alegria
Hoje enfim descobri uma verdade.
Que o que tenho a oferecer
É muito menos do que pode conter
uma lágrima (furtiva e discreta).
Menos que uma ilusão passageira,
Ofereço o meu talento tosco e mal acabado.
O que oferto não enche um dedal
O que trago não pesa um grama
Mas tem o peso de uma dor aguda.
E isso é grave.
Hoje não trago flores.
Orquídea ou gerbera,
Mas uma tristeza, uma vergonha e uma certeza,
Que vieram a reboque, sem pedir licença
E estão à espera
Da uma palavra ou um sorriso seus.
Hoje não trago flores,
Trago a terra e o suor das estradas
Nas roupas, no rosto e nas botas...
Mas bem me queira.
Não tenho eira nem beira,
Apenas o resto da minha vida inteira
Trago uma tristeza na palma da mão
Na outra, fechada, guardo a noite
Mas não pra você, que merece o sol.
Apenas para poder desdobrá-la
Quando estiver sozinho - que piada
E nela poder me esconder
Em meio a mais uma tormenta.
Como um náufrago
Que não se acostuma ao frio
Oceânico que o engole
Agarrado à única lasca de salvação
Que encontrou no mar revolto e escuta
Um Noturno de Chopin ou o adágio de Hadyn
(em mi maior para quarteto)
Uma nota sonolenta ecoa na minha cabeça
E uma tristeza longa flutua no meu ar.
Hoje não trago flores,
Mas uma voz de nicotina.
Nem a esperança trago agora
Mas toda a incerteza do mundo
E uma vontade louca de ir embora.
Partir ao seu encontro, menina,
E me aninhar nos seus braços
E me esquentar no seu colo
Que você me ofereceu uma vez
E aceitar seus carinhos sem pensar
Esquecer das horas em meu solo.
Helio Jenné